Coluna Magirus: Pop sim, e daí?
Depois de tratar de hard rock e clonagem musical, chegou a hora de eu falar um pouco mais do pop. Sim, esta pequena palavra de três letras causadora de tantos casos de amor e ódio. Você nunca se perguntou por que tanto preconceito? O pop está cheio de artistas musicalmente talentosos. É um gênero rico por abranger muito mais do que a própria música, mas todo um conceito que se estende à criação de uma arte visual compatível. É claro que atualmente existem aqueles que se preocupam mais com a aparência na gravação de um videoclipe do que da representação da música em si. Por que não pensar igualmente nos dois?
A música pop é essencialmente qualquer música que tenha como base uma melodia memorável, versos geralmente repetidos, refrões destacados e uma estrutura concisa que mantenha o foco do ouvinte em tais elementos. Este gênero, por mais difícil que se possa crer, vem ainda lá do século XIX, quando ainda não existiam as grandes emissoras de rádio, muito menos paradas de sucesso semanais. Enfim, aquele foi o miolo do ovo. O pop que conhecemos hoje tomou forma na era pós-rock and roll do último século, emergindo no início da década de 60 quando as manias adolescentes começaram a diminuir e fazia-se preciso um rock alternativo mais leve e plácido. Era um negócio mais profissional, tanto no processo de composição como no da gravação em estúdio. Não tinha tanto a ver com a energia e a atitude do rock and roll.
Com o fim dos anos 60 o pop começou a incorporar alguns toques de psicodelia e influências do soul/blues. Foi a época em que artistas como Marvin Gaye e os Jackson Five se estabeleciam como grandes influências para as gerações seguintes. Na década de 70 o pop amadureceu graças às célebres parcerias e aprimoramento na composição de canções. Carole King e The Carpenters eram sinônimos de qualidade e profissionalismo.
É difícil dizer quando o pop realmente deslanchou. Eu prefiro acreditar que até os anos 80 houve uma espécie de preparo e experimentações. Surgiu a febre da disco music com aliados do porte de Bee Gees e – novamente, só que agora com outro nome – os Jacksons. Acho que isso já pode explicar mais ou menos de onde saiu a força deste poderoso gênero musical. A década de 80 foi definitivamente orientada à música. Rock e pop dividiam o mesmo espaço e confundiam-se em mirabolantes combinações que mais tarde daria nascimento a novos sub-gêneros. Foi então que o mito Michael Jackson colocou o seu dedo na história fazendo com que a música pop jamais fosse a mesma. Era um negro que escrevia música, cantava como ninguém desde a infância, dançava de uma maneira peculiar e conquistou uma audiência de milhões de pessoas no mundo inteiro. Até hoje, 20 anos depois, ele é dono do maior best seller da história da música: o álbum Thriller. Michael Jackson soube, com simplicidade, desenvolver as melodias que quebrariam as barreiras do inimaginável, soube incorporar a sensibilidade de sua voz ao cantar obras hoje consagradas e, incrivelmente, soube absorver os passos de seus mestres para criar movimentos e danças originais, marcas até hoje imitadas pelos mais diversos astros do showbiz. Sem dúvida ele já era o Rei do Pop muito antes disso, mas ninguém sabia.
Michael Jackson abriu portas para outros ícones posteriores como Cher, Madonna, Menudos, New Kids On The Block, Celine Dion entre outros. Os anos 90 viram um pop ainda mais forte, mas cada vez mais cansativo. Volta e meia alguém aparecia e fazia alguma coisa que prestasse. O que me deixa triste é que muitos não seguiram o exemplo de inovação da década anterior. Pouco se criou, muito se copiou. Artistas surgiam do nada, enquanto os mentores eram esquecidos e até vitimados pela falta de informação pública.
Hoje nos dizem que o pop anda enlatado e destinado exclusivamente a um público consumidor principal: os adolescentes. Opa, parece que temos algo parecido na década de 60, não? Então para quê tanto preconceito? A música é um ciclo onde uma etapa vem de cada vez. Neste caso estaríamos nos preparando para um novo “boom” e, ao mesmo tempo, martirizando o ícone máximo e fundamental da cultura pop. Pense.