Coluna Magirus: Metal e pop juntos em 2003?
No ano que passou presenciamos mais um capítulo da guerra entre as companhias fonográficas e a incessante propagação de seus ítens através da internet, seja por MP3 ou qualquer outro formato de compressão e distribuição de música. Se por um lado houve uma queda significativa nas vendas de álbuns de certos artistas, por outro os gêneros fora do campo mainstream levaram a melhor, conquistando reconhecimento internacional por trabalhos já taxados de underground.
A volta do rock sessentista através de grupos como The Strokes, The Hives e The White Stripes não é tudo. O heavy metal nacional teve uma enorme alta em 2002 e tudo indica que isso se extenderá para este ano também. Comecemos pelo Shaman, banda remanescente do já consagrado Angra, cujo primeiro álbum mistura influências de música andina com o heavy metal melódico característico. Quem diria que uma banda tão pouco conhecida aqui no Brasil assinaria contrato com uma gravadora do naipe da Universal logo em seu primeiro álbum? Como se não bastasse, os cinco rapazes ainda conseguiram ter uma de suas músicas — “Fairy Tale” — incluída na trilha sonora da novela das sete da Rede Globo, O Beijo do Vampiro. Embora muito criticado por uma suposta “comercialização”, o Shaman conseguiu provar que as barreiras do metal nacional podem ser quebradas.
Outro exemplo de sucesso é o renascimento do Angra, a banda que já teve o clipe nacional mais caro da história. Com novos integrantes desde 2001, a velha influência tupiniquim e um som de poder, a banda se mostra como um verdadeiro dream team, o qual deu muito certo aqui e lá fora. Além da expressiva conquista de uma nova comunidade de fãs, o novo Angra conquistou disco de ouro no Brasil menos de dois meses após o lançamento do seu primeiro álbum, intitulado Rebirth. O sucesso levou a banda à televisão aberta — Altas Horas, Programa do Jô, Musikaos, etc. — e fechada — com um clipe especial de “Pra Frente Brasil” no SporTV. O guitarrista e compositor Rafael Bittencourt deixou claro que o metal nacional só está onde está devido a uma desvinculação do estereótipo de metaleiro com a imagem satânica que muitos antes tinham. “As pessoas estão começando a apreciar o som”, diz ele. Não é por menos, muitas das músicas do Angra — destaque para faixas como “Heroes Of Sand” e “Bleeding Heart” — estão bem além dos preceitos errôneos que muitos têm sobre o heavy metal. Elas são parte de uma coletânia de trilhas sonoras para a vida e é este o ponto abordado em Rebirth. Definitivamente uma obra conceitual de respeito.
A ascenção da internet possibilita aos desenvolvedores da arte underground mostrar seu trabalho a um número cada vez maior de pessoas, atingindo não apenas reconhecimento, mas distinção do que está sendo feito por aí. O pop é como a casa da mãe Joana, sempre cabe mais um. Seria este o momento do heavy metal? A questão por si própria depende da perspectiva de cada pessoa. Por agora podemos dizer que o metal nacional nunca esteve melhor em divulgação e reconhecimento, isso incentiva o surgimento de novas bandas e levam os músicos aspirantes a terem ídolos realmente talentosos por méritos próprios.