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Coluna Magirus: Ho, ho, cof, cof

Recentemente andei me pegando vendo programas que jamais assisto na televisão. Vocês sabem, “febre de fim de ano”. A família se reúne e, obviamente, os meus gostos como jovem estão bem além dos gostos da galera “mais experiente” lá de casa. De repente me encontro num beco sem saída com Padre Marcelo Rossi de um lado, KLB, Pedro & Thiago, Wanessa Camargo e Rafael de outro e Sandy & Junior fechando o cerco. Enfim, foi praticamente impossível quebrar este tabú que eu tenho. Não acredito muito em comércio “forjado”, por mais talentosos que certos artistas possam parecer ou realmente ser.


Este não será mais um artigo bonitinho, muito menos um conto de fadas. Vejo que é importante eu expressar a minha opinião como ser racional, músico aspirante e, principalmente, telespectador. Como você, eu não costumo achar tudo o que vejo bonito. Nosso senso crítico não permite isso. Eu poderia adorar o fato de o programa Jovens Tardes da Rede Globo estar ressucitando a Jovem Guarda e mostrando uma faceta do rock and roll nacional que muitos antes desconheciam. Mas como desfrutar disso sem um pingo de consciência que tais artistas estão lá por serem filhos de quem são? E o programa, será que é sincero ao abordar este assunto ou seria arrogante do ponto de vista comercial? É claro que, se pensarmos, podemos concluir que tudo isso convém para uma emissora de TV, especialmente do porte da Globo. Mas o mais revoltante nisso tudo é que daqui a pouco alguma outra emissora “roubará” a idéia — que deu certo — e cairemos naquela mesmisse de que falei no meu primeiro artigo aqui no Central. O contrário também acontece seguido, estou apenas citando um exemplo.


A nossa civilização não possui mais a arte do jeito que ela deveria ser — sincera e original. Hoje, até as boas idéias se desgastam e perdem a chance de se tornarem peculiares. Por isso, se você quer realmente conhecer a Jovem Guarda, beba direto da fonte. Pesquise, leia, ouça, tire suas conclusões. Porque se você se contentar em engolir o que a mídia vem socando em nossa garganta, vai acabar aceitando gratuitamente a coroação de Elvis Presley e Roberto Carlos, a deterioração dos fenômenos John Lennon e Freddie Mercury, a “revolução” — sexual — de Madonna Ciccone, entre outros “padrões” da sociedade. Não deixe que isso aconteça. Não mais. Claro que nada pode lhe impedir de apreciar a juventude que hoje brilha nas telas. Estamos revivendo uma era antiga, apenas com retoques contemporâneos. Mas é importante fazer os cálculos e entender por que eles estão lá e não outros tão talentosos como eles ou até mais.


Eu costumo dizer que vivemos em meio a um “nepopismo”, ou seja, o nepotismo do pop. Eu não ligaria tanto para isso se estes “frutos” fossem independentes desde o início. Mas no caso deles é praticamente inevitável a atuação de um empresário-padrinho-pai. Não os culpo, porém. Os admiro por ousarem desafiar um showbiz deteriorante e difícil, onde são poucos os que duram por mais de 5 anos no topo. Admiro seus pais por apoiá-los mesmo depois de sofrerem na pele o preço da fama. A minha crítica não vai para eles, ela vai para a máfia da mídia, aqueles que lucram às custas da superexposição de artistas famosos. Estes, ingênuos por sua vez, acabam cedendo às tentações do comércio e, muitas vezes, acabam sacrificando suas carreiras brilhantes por não ter coragem de dizer um “não” deixando, assim, terreno livre para a renovação do faturamento de outrém. Vida de artista.

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