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Coluna Magirus: Bouncing back again

Não existe banda no mundo do rock and roll, com a exceção do Aerosmith, que tenha sobrevivido após quase 20 anos de sucesso e mais de 80 milhões de discos vendidos do que o Bon Jovi. Existem aqueles que os criticam argumentando a exploração da imagem do vocalista como a razão da carreira bem-sucedida desta banda de Nova Jersey, mas o quarteto está de volta dois anos depois de Crush (2000). Eles prometem superação com um som por vezes mais pesado que o disco anterior. Basta apertar o play e curtir Bounce, o novo álbum lançado há pouco no mundo inteiro.


Ao escutar os primeiros riffs da guitarra de Richie Sambora o ouvinte que já conhece o som da banda tem a impressão de estar ouvindo algo remanescente do álbum Keep The Faith (1992), que é caracterizado por uma sonoridade bem transitória e definida por alguns como pop/metal, mas não é nada menos do que um hard rock moderno e contagiante. A entrada da voz de Jon Bon Jovi
comprova isso, mas logo a música toma forma e desenha sua melodia característica apoiada numa letra de conteúdo já bem manjado: os atentados de 11 de setembro em Nova York. “Undivided”, entretanto, é certamente uma das melhores faixas do álbum e lembra muito o clima de “Hey God”, música de abertura do These Days (1995). O destaque fica para o final da canção, apenas com violão e voz, do jeito que Jon e Richie costumam compor. Perfeito desfecho para uma obra poderosa e promissora em relação a performances em show.


A faixa seguinte, “Everyday”, foi escolhida como primeiro single por uma razão muito simples: ela tem cara de primeiro single. Assim como “It´s My Life”, que colou na cabeça dos jovens de hoje e os estimulou a conhecer mais as origens da banda, a faixa 2 do Bounce é muito previsível e trás a já famosa talkbox de Richie Sambora na introdução, a qual é seguida de uma entrada bonjoviana de bateria, uma espécie de marca registrada. Um fato curioso é que a bateria de Tico Torres não foi gravada totalmente ao vivo. Explico: desde Crush o Bon Jovi tem utilizado a tecnologia para agilizar o processo de produção de discos, adotando a gravação de loopings de bateria, bem como a de orquestras gerenciadas em computador. Em “Everyday” isso não fica tão artificial como no primeiro single do álbum anterior, mas a música está longe de se tornar um hino como o mesmo se tornou. Existem duas versões desta canção, o que é algo inédito para o Bon Jovi. Uma delas é considerada a versão pesada, com uma guitarra apenas, a que forma o ritmo de pegada hard juntamente com a bateria. Na versão alternativa, também utilizada no vídeo clipe, essa linha de guitarra fica menos saliente e entra uma nova que ameniza a sua harmonia. Comprando o álbum você terá a primeira versão.


Assim como flores não brotam em horário previsto, “The Distance” não é uma balada como o título pode levar a entender. A surpreendente introdução da canção não é correspondida a altura pelo seu refrão previsível – e esta é uma palavra preocupante quando estamos falando de Bon Jovi. Mas a levada pesada das guitarras e a programação de orquestra e do teclado de David Bryan se encaixam bem nesta faixa, dando muita conta do recado.


Finalmente uma balada e junto dela muitas perguntas. Onde está aquela paradinha clássica das baladas do Bon Jovi? Cadê aqueles vocais agudos gritando “yeah”? E aquele solo virtuoso e marcante? Bom, amigos, o Bon Jovi evoluiu e suas músicas também. “Joey” é uma das baladas mais bonitas desde a era Crush. A sua simplicidade, melodia “gostosinha” e linha vocal arrastada em versos como “come on, come on, come on” vence a paradinha, os vocais agudos e o solo de “Thank You For Loving Me”. É sem sombra de dúvidas um dos pontos altos do disco, que só peca mesmo em apresentar baladas em demasia.


Em “Misunderstood”, que será o segundo single do disco, Jon canta como é ser mal compreendido pela pessoa amada. Os vocais são bem melódicos e a música se mostra como uma balada de ouvir em carro, bem prazerosa de se escutar. Nada de peso nesta, apenas o relevante.


“All About Lovin´ You” é uma das decepções de Bounce. O que era para ser uma power ballad estilo “Always” e “I´ll Be There For You” se resume numa canção fraca, com riffs de guitarra pouco inspirados e um refrão sertanejo de pouca criatividade, ao contrário dos clássicos. Lamentável.


“Hook Me Up” é outro ponto alto deste álbum. Uma música de hard rock moderno e de início enganador. Sua imprevisibilidade e robustez empolga o ouvinte, que nessas alturas do campeonato já está balançando a cabeça sem nem olhar para os lados.


É hora de outra balada, mas esta sim criativa, principalmente em seu conteúdo em forma de conto. Falo de “Right Side Of Wrong”. A história fala de alguém que precisa roubar para sustentar sua família. Um piano bem indispensável introduz a faixa que só peca na bridge – parte que antecede o solo – onde a criatividade de Richie e Jon parece ter se limitado. Num aspecto geral é uma bela música com muitos méritos, principalmente com o solo inspirado de Sambora.


Seguindo os passos de “Misunderstood”, mas apostando em orquestra e guitarras mais pesadas, “Love Me Back To Life” é uma reinvenção da primeira. Grande refrão, ótimos riffs de guitarra e vocais empolgantes. Isso diz tudo desta música que poderia ter sido escolhida como segunda faixa de trabalho ao invés de “Misunderstood”.


Como não poderia deixar de faltar, eis uma baladinha com violão, indispensável desde These Days. Assim é “You Had Me From Hello”, cujo título foi inspirado num filme hollywoodiano. Apesar de não apresentar grandes apelos comerciais, esta faixa tem uma peculiaridade melódica e também é merecedora de destaque, nem que seja pela sua esquisitona bridge que mais parece um pedaço de uma segunda canção.


De volta à previsibilidade com a faixa homônima do disco. “Bounce” trás uma mistura de “It´s My Life” com “One Wild Night” e o sucesso de Ricky Martin “She Bangs”. Apesar disso tudo a empolgação é garantida e foi comprovada durante um show recente da banda em Londres, cuja transmissão na web brasileira contou com a segunda maior audiência do mundo inteiro, na frente de países como EUA e Reino Unido.


Para fechar o álbum foi escolhida, infelizmente, uma das baladas mais fracas da carreira do Bon Jovi, inspirada no seriado Ally McBeal do qual Jon participou. É “Open All Night”. Sinceramente o disco poderia ter acabado com uma mais poderosa, como a citada acima. Mas nem tudo são flores. Pelo menos temos a certeza de que ainda iremos ouvir falarem muito dos heróis de Nova Jersey que um dia abandonaram os clubes locais para serem vistos e aclamados pelo mundo inteiro.


Obs: algumas informações foram baseadas em dados do site brasileiro Bon Jovi World (http://www.bjworld.com.br), cujo criador e webmaster (André Sambora) é um grande amigo meu.

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