Sana Inside » 'Coluna Boataria: Samba rock funk soul'

Coluna Boataria: Samba rock funk soul

      Nada é tão exato como a música. Nas lojas, gôndolas dividem exatamente o que é cada coisa. Assim, rock não entra no espaço do reggae; house não pisa na dancefloor do dub.


      Mas durou pouco. Alguém conseguiu estragar a política da boa divisão a fim de misturar e atrapalhar nossa organização. Recentemente, um tradicional cantor brasileiro somou ao seu nome um grupo cujo subtítulo é Amigos do Samba Rock Funk Soul. E, pior, pra dar uma conclusão na chamada, colocarou um estridente Let´s Groove.


     Ora, cada coisa é uma coisa!


     Já é hiper difícil saber o que é samba. Porque um monte de coisa é samba. Pagode, chorinho, é tudo samba. Vai dizer que não? Se não for, é porque há um certo preconceito contra o pagode “melódico” tocado por parcela da população vinda dos guetos blábláblá. Mas, enfim, é tudo do mesmo cesto de gato.


     O rock é outra coisa com que convivemos mas sem saber exatamente seus limites. Porque incluem na merenda Bon Jovi, Eric Clapton, Jon Spencer Blues Explosion, Rush e Ministry. Qual é a relação entre esses nomes?


     Soul e funk são dois ritmos admirados por muita gente, mas suas diferenças são percebidas tanto quanto o planeta Terra é vislumbrado em Oberon. Chegamos a um ponto em que soul e funk são tratados como sinônimos, seguidos do acachapante Let´s Groove!!


     Groove é uma palavra também chafurdada na banalização. A bolsa de Nova Iorque não cairia se o quarteto metal Slayer fizesse uso do termo. Por sinal, os roqueiros do Red Hot têm groove endovenoso (na veia!), o Daft Punk sabe muito bem o que é e provavelmente James Brown não agüenta mais tanta azaração pra cima de sua obra.


     Por isso, caso você se flagre num show de samba rock funk soul, exija um heavy metal com pitadas de Bob Marley, Nine Inch Nails e Katinguele. Ou é só marketing sem sentido.


[ ] [ ] [ ]


MTV vs. Pirataria


      Na edição 19 da Revista MTV (do grupo Abril, dona de gravadora homônima), faz-se amplo discurso contra a pirataria. São gastas 12 páginas contra a cópia ilegal de marcas famosas. No entanto, pouco se conclui a partir do texto cheio de números, além do maniqueísmo (bem e mal, ponto) à la Smurffs.

Apenas no final da longa matéria com números, vê-se uma tímida tentativa de incluir o problema social (desemprego) como uma das causas da pirataria. Tangenciando a solução, é dito que a resposta deve ser feita num “conjunto de ações governamentais”. Mas quais? Se o periódico MTV dá tanto destaque ao minucioso e equilibrado estudo contra um crime, por que não direciona o assunto para alguma solução?

“Varrer os camelôs das ruas” é um dos desejos da empresa, pelo que é mostrado. Talvez os garis possam varrer os camelôs enquanto varrem o lixo das ruas.

Um dado aglutinado ao demais diz que as gravadoras demitiram 30% dos funcionários por conta da pirataria. O que não é falado é da crise, também conhecida como recessão, que vem lá dos Estados Unidos. Como um espirro nos EUA vira pneumonia por aqui, a venda de CDs no Brasil despenca não é de hoje, e tem como causa o momento econômico difícil. Aí é que entra a demissão de trabalhadores (que por sinal, vai alimentar o trabalho informal e conseqüente venda de CDs piratas).

São incluídos, veja, os nossos queridos downloads na gama de piratas. Eu e você, que pegamos músicas na internet, somos piratas. Como diz a revista, somos comparáveis a traficantes então?

      Realmente, “tudo pode ser falsificado”. Para tratar o problema “sem ilusão”, como quer o editorial revista, deveria ser destacado o desemprego de grande parcela dos brasileiros, a ganância das grandes corporações e a corrupção governamental. Senão, fica um apanhado de números sem noção.

© 2008 Powered by WordPress