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Coluna Boataria: As torcidas do rock (Parte 1)

Torcidas de futebol podem ser associadas às maiores tribos do rock. Fazer esse levantamento inédito é como cantar Atirei o Pau no Gato sob a harmonia de Another Brick The Wall. Ou não, como diz aquele dublê de cantor. Usando luvas amarelas de trabalho doméstico e tesoura de cortar caules de rosas, mostramos nosso bonsai torto.


Uma boa desculpa sobre a possível união é os estádios de futebol virarem palco de música. No Brasil, nenhuma novidade, a dupla funcionalidade dos gramados é ritual desde o primeiro Rock In Rio. Na Inglaterra, muito menos: Wembley foi palco para os dragões do rock lançarem fogo ao público – que por sinal é uma péssima analogia.


 As torcidas:


 Corinthians


De certo modo, os fãs do Rush estão há 23 anos na fila. Quer dizer, nem na fila. A banda canadense sempre adorada por aqui, apenas neste ano comprou passagens para o sul da América. Porque esperaram tanto, podemos concluir que os rushmaníacos são fiéis como os corintianos.


 Entoando frases como Olé, olé, olá, o Rush vem aí, a coisa vai pega, a torcida do rock progressivo vai lotar imensos estádios de futebol para conferir a ginga de Neil Peart, que estará cercado pelos seus 3045 pratos, 7 caixas, 4 bumbos e 19 sinetinhas plim-plim. Se o baterista do Rush fosse jogador de futebol, só faria gol de bicicleta, no meio de campo. E nunca chutaria de bica a redonda.


Flamengo


Fale o que quiser…Heavy Metal is the Law! (frase do site Heavy Metal)


Como o Fla nos gramados, o heavy metal é a maior torcida brasileira no rock. Basta ir à Galeria do Rock aos sábados para conferir a quantidade de fanáticos consumidores do produto from hell. Aquele lugar no centro paulistano é a lojinha de conveniência de quem tem no guarda-roupa trajes nas cores preto, azul marinho escuro e cinza, para os dias mais felizes.


Não por acaso, o Mengão é conhecido como alviNEGRO.


Essa associação entre metal e time carioca patrocinado eternamente pela Petrobras não é novidade. O portal de notícias Folhaonline publicou no sábado, 26/10 a manchete: Flamenguistas ficam



revoltados com arbitragem. Repare, o sentimento exprimido foi revolta. Ora, quem no mundo do rock é revoltado por natureza? Quem fica se esgoelando e, desculpem a nojeira, expele catarro sobre o microfone, em sinal de raiva? Quem faz voz gutural endiabrada, por ter muito ódio no coração? Quem recebe o codinome from hell?


Claramente, quem formulou a frase sabia que revoltados une flamenguistas a metaleiros.


Portuguesa



(Maior assembléia de torcedores lusitanos, em 1999)


A Lusa tem poucos torcedores. Piada das mais antigas diz que são apenas testemunhas. O rock alternativo, por sua vez, é comparado ao time do Canindé porque também é admirado por seis ou sete pessoas.


(Se ir ao estádio para ver a Portuguesa é semelhante a comprar pão na padaria, ir a uma casa noturna de rock alternativo é saborear uma festa tipo amigo secreto de jornalistas do saboroso caderno Futilidades.)


Tanto os luso-brasileiros quanto os indies brasileiros têm um pé na Europa. Falar do velho continente é um dos passatempos prediletos de ambas as castas.


Outra anedota contra Lisboa afirma que Manuel gostaria de construir uma estrada para ligar Brasil a Portugal. Esse desejo muitos fãs de Sonic Youth não têm, pois já imaginam São Paulo ser uma Londres à paisana.


Grêmio


O futebol gremista não usa do artifício firula. Ou seja, como o rock´n´roll do KISS, também é tosco. Está bem, você pode argumentar que a turma de Gene Simmons descola uns acessórios estranhos como aquele salto plataforma na coloração zebrinha. Da mesma forma, a masculinidade gaúcha é colocada em cheque, deixando novamente tudo quite entre os pares.


Para os mascarados do rock, o que prevalece é a crueza do som. Por sinal, de igual forma os gaúchos tricolores e trilegais objetivam o jogo sem frescura.


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AUSÊNCIAS DO FREE JAZZ


 O Free Jazz completou um ano de ausência. Para recordar:


 26 de outubro de 2001, às 22h


 Grandaddy, Sigur Rós e Belle & Sebastian (no Main Stage)


 Yousef, Hernan Cattaneo, Sander Kleinenberg, Mau Mau e Timo Maas (no Cream)


 27 de outubro de 2001, às 22h


 Roni Size Reprezent e Aphex Twin (no Main Stage)


 Lottie e X-Press 2 (no Cream)


 28 de outubro de 2001, às 23h


 DJ Patife, Stanton Warrions, Jon Carter e Fatboy Slim (no Cream)


 Outras ausências do FJ: ausência de tumulto; ausência de calor, pois havia ar-condicionado; ausência de cansaço, pois tínhamos cadeiras confortáveis; bebida cara, mas e daí? Fazia parte.

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