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Boataria: Nas megalojas

Quem foi a uma megastore recentemente já conhece as máquinas de audição de CD. Elas estão para as lojas mega de discos como o drive-thru está para os fast food.
 
A idéia é simples. Em vez de enfrentarmos uma fila danada para que o funcionário abra a caixinha de plástico, tire o compact disc e ponha no tocador, simplesmente a gente passa o código de barras num leitor e a música dispara a tocar.
 
Bastante prático, o novo sistema -nem tão novo assim- dá mais liberdade aos clientes e libera os funcionários da rede. Mas alguns probleminhas colocam ruído na eficiência do esquema high-tech.
 
Na Saara Megastore, é difícil encontrar um aparelho vago. Como todos equipamentos ficam juntos, as pessoas rondam a alta tecnologia como urubu sobrevoa carniça. Não existe corda de isolamento, que nos faz educados e é justa com quem espera há mais tempo. As alternâncias são feitas no mais puro ritual de força à la África Indomável do canal Discovery.
 
Outro problema, que também atinge as stores menos mega, é o tempo de audição por música. Não há escolha, só podemos ouvir de 20 a 30 segundos por faixa. Se você quiser ouvir música eletrônica, que, por definição, sempre dá uma enroladinha no início, jamais irá perceber em que se consiste, realmente, a faixa.
 
O refrão é o ponto alto de qualquer canção. Sem contar os Ramones, qual banda, cantor ou cantora executa o pedaço mais assobiante nos primeiros instantes da composição? Se elevarmos isso à décima potência, como comprar um disco do Underworld, que cria faixas eletrônicas de dez minutos, ouvindo apenas os iniciais 5%?
 
Outro detalhe bastante pertinente é com relação ao leitor do código de barras. O raio laser não alcança barras postas no centro da caixinha do CD. Caso o designer ache legal botar o tal código no meio da contracapa, muita gente vai ter seu dia de Mr. Bean ao tentar passar as luzes vermelhas nas cobrinhas pretas.
 
Por fim, o revolucionário sistema não nos permite a leitura do encarte, que é um atrativo a mais contra pirataria e mp3. Assim, deixamos de ter acesso à obra completa, ao conjunto de peças que montam o álbum; somos apresentados somente a poucos momentos de audição que podem ser feitos em casa, ao baixar uns megabytes de música.


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LEITOR DE CÓDIGO DE BARRAS PECHINCHATOR TABA…
 
Como não fica bem apenas criticar, Boataria vai propor sugestões para a melhoria do mega-atendimento.
 
Os leitores de código de barras poderiam ser modificados para inclusão do eficiente sistema Pechinchator. Nele, o mais chato dos clientes, ao passar pela nonagésima vez o CD para conferir o valor, receberia um desconto.
 
Esse abatimento seria entendido como uma vitória do cliente. As sucessivas verificações de valor seriam acumuladas na memória do megacomputador central como se o comprador em potencial estivesse perguntando, “Mas o preço é esse mesmo? Não dá pra fazer um descontinho?”.
 
A máquina concederia o “% OFF”, haveria interação entre os dois grupos (homem e máquina) e, desse modo, deixaria a relação um pouco menos fria.


Exija o sistema Pechinchator na megastore mais próxima de sua casa.

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