Boataria: Escola de samba homenageia (III)
É difícil às vezes escolher o que será tema de carnaval. Várias idéias, alguns interesses e o dinheiro disponível elegem quem vai virar mito.
O rock alternativo nunca esteve próximo do surdo e da cuíca. Fatos demonstram que o único instrumento de sambista compatível com as guitarras estridentes é a caixa de fósforo. Mas nenhum indie que se preze vai batucar nela!
Por pena, por ser um estilo excluído, os sambistas poderiam dar uma força aos órfãos do Velvet Underground. E a bem da verdade, as pessoas vão para o sambódromo se divertir. Pouco interessa qual o assunto de que trata a música.
Sendo assim, ninguém vai notar o tiro n´água. O importante é criar um samba-enredo em que se imagine luz, sol, flores, colorido, mata atlântica, pororoca e anta. Algo como “Sonic Youth no Reino da Samambaia Feliz” ou “Guitarras elétricas, confete e serpentina: Golfinhos Dançam o Carnaval”.
Obviamente, os quesitos para apuração técnica e precisa deveriam ser trabalhados com maior rigor. Seria fácil haver algum erro tipo abre-alas confundido com porta-bandeira. Nada é muito certo nessa corrente roqueira. A Escola vai apostar num mote fraco, suburbano e infeliz por natureza.
O carro alegórico de maior importância viria a ser aquele em que se leva um dos pilares alternativos: o tênis All Star. Este meio de locomoção autônomo é muito utilizado por peruquinhas e frajolas. Ganhou fama ao protagonizar os 5 primeiros segundos do clipe “Smells Like Teen Spirit” do Nirvana, no começo dos anos noventa. Além ilustrativo, poderia transformar-se em patrocínio.
Já os tipos de fãs do rock alternativo seriam definidos profundamente. Não haveria a superficialidade vista nas HQs, que mal explicam seus heróis. O catálogo “indiegena” partiria do shoegazer até o tipo mais atual, que ninguém sabe exatamente qual é.
Por fim, as bandas alternativas profissionais (leia-se gringas) seriam convidadas para o samba bem pra frente. E todas (!!) viriam, pois elas (as gringas) gostam muito da música brasileira. O quarteto Superchunk (gringo) desceria do avião dando pernadas de samba. Wannadies, Cornelius, Belle and Sebastian, The Bees (todos gringos) também chegariam eufóricos.
Infelizmente, o povo não entenderia nada. Segundo “Ibope”, o público destacaria esta como a pior escola da noite, quiçá da história do carnaval. As arquibancadas ficariam vazias. E para os indies, esse resultado significaria sucesso, sucesso indie.
Glossário
Glossário: “vocabulário em que se explica palavras obscuras” (Dicionário Aurélio – Séc XXI)
Rock alternativo: rock´n´roll com guitarras altas, sentimento de fracassado, cantado pra dentro. Não é bem definido no Brasil, são incluídos na mesma laia Blur, Hives, Strokes, Pixies, Queen Of The Stone Age e Sonic Youth.
Indie: quem gosta de rock alternativo.
Velvet Underground: banda precursora do gênero alternativo.
Shoegazer: pessoa que olha demais para seu próprio tênis.
Frajolas e Peruquinhas: os indies (ver “indie”).
Wannadies, Cornelius e Belle And Sebastian: grupos de rock alternativo.
Superchunk: também.
Gringo: estrangeiro.
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NO DOUBT FAZ ELETRO
Como você já deve saber, existe um estilo de música eletrônica que recupera a sonoridade dos anos 80. Essa modalidade chama-se eletro. O No Doubt não quer perder a clientela e já manda sua música eletro por aí.
“Keep On Dancing” mantém o grupo da Gwen Stefan atualizado. E é legal!
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SPACE COWBOY FAZ PRINCE
Ótima dica do jornalista Lúcio Ribeiro, que escreve na FolhaOnline (www.folhaonline.com.br), “I Would Die 4 You”, do Prince, tocada por Space Cowboy.
Espera-se que os DJs brasileiros estejam bem informados.
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INDIE COM LEVADA REGGAE
“You Got The Style” é uma canção doida pra fazer sucesso em país tropical. É rock mas tem levada reggae. Por isso, o potencial “top Brasil” é grande.
Quem toca o incubado hit é o desconhecido Athlete, que recentemente rondou as listas de singles inglesas.
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SEU ERNEST E SEU MIX; MAAS FT. MOLKO
A versão primeira de “A Different Feeling” (The Avalanches) é ótima. Mas aí seu Ernest St. Laurent comprometeu todo o trabalho da banda australiana para recriar a canção e deixar a mocinha a ponto de bala. Está irreconhecível.
O remix do DJ “rocker” Timo Maas para “Special K” (Placebo) nos faz pensar se o brit pop Brian Molko deveria realmente continuar a cantar num grupo tradicional. Talvez fosse melhor se lançar numa carreira drag-queen-canta-house. Faria um baita sucesso!
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7 MARES INTERGALÁTICOS
Surface of Eceon faz música pra quem ainda não marcou sua viagem em ônibus espacial mas pretende dar uma volta pela galáxia nos próximos meses.
“The Open Sea”, faixa do disco “The King Beneath The Mountain”, está fixada na página da revista “Losing Today” (www.losingtoday.com).
“Deep Gray Night”, do mesmo álbum, é distribuída gratuitamente pelo site oficial do quinteto: www.surfaceofeceon.com