Boataria: Escola de samba homenageia (I)
Notícia surpreendente seria se uma escola de samba resolvesse homenagear a música eletrônica. A Sapucaí iria reviver sua boa fase dos anos 80, quando a Estação Primeira era soberana.
O samba-enredo se chamaria algo como “Quem Não Gosta de Música Eletrônica É Doente do Pé”. Sua letra não faria um tratado histórico-sociológico nem iria a fundo na obra eletrônica de algum DJ. Espertamente, a canção, que não seria considerada marchinha, traria refrão simples e pegajoso. O DJ Felipe Venancio incluiria, em certo momento, algumas batidas delicadas. Depois da mistura funk carioca com sambódromo, os beats encantariam a platéia cyber-samba.
À frente, no abre-alas, haveria um grupo de pessoas impecavelmente parecidas com o quarteto do Kraftwerk. Sacariam suas calculadoras de bolso, andariam a solavancos, como robôs, brincariam com notebooks. Tudo numa perfeita coreografia nota deeeez!
Logo atrás dos alemães viria uma agulha gigante de vitrola como carro alegórico. O sulco por onde ela passaria – sem criatividade nenhuma – seria a avenida do samba. Todo aquele som sairia hipoteticamente do grande cristal fonocaptador (Quê?!?), diria o comentarista da TV. Em cima, sacudindo, estariam Patife e Marky, os dois maiores nomes da música brasileira atual.
Passistas, na primeira ala, “Só Na Botininha”, vestiriam verde e rosa fosforescentes. Óculos amarelos completariam a roupa clubber. Homenageados também, os cyber-manos mostrariam roupas confeccionadas por eles próprios. Meses antes do desfile, 120 deles ganhariam um concurso para viver o carnaval intravenoso (ou melhor, NA VEIA!!).
Os famosos poderiam conciliar o samba popular ao que escutam em dia de feira, nas suas próprias casas noturnas. Nas danceterias onde se cobram R$100,00 de consumação, dança-se M.E. de FM. Estranhamente no Brasil o drumba se torna às vezes esporte fino. Mas quem liga, “é carnaval!”, como disse Bart Simpson dentro de uma Sucuri.
Falta à descrição os detalhes do corpo a corpo, do giro de pandeiro em frente à câmera, do aviãozinho trazendo nova imagem, da Globeleza requebrando, do mestre-sala, da porta-bandeira, da falta de solenidade, da falta de roupa…
Adriano Claret é colunista do Central da Música. Email: expediente_central@hotmail.com