Blog: Don`t believe the hype
Estava dando uma lida nuns textos antigos da coluna Pólvora, aqui do Central da Música mesmo, e achei interessante reproduzir o trecho abaixo. O autor é o Marco Canônico, colaborador que anda meio sumido do site, mas que manda muito bem. Esse texto é de agosto do ano passado, época em que os Strokes estavam sendo a banda mais “hypada” do mundo. Concordo com o Marco…
O que tem em comum Gorillaz, The Strokes, Queens of the Stone Age, And they will know us by the trail of death, Guided by Voices, The Avallanches, Berimbrown, Cordel do Fogo Encantado e algumas outras bandas de estilos diversos ? Todas apareceram nos últimos tempos embaladas por uma valorização exagerada, um clima de “você tem que gostar, isso é a salvação da música”, enfim, o tal do “hype”.
Quem acompanha música e banda novas que surgem conhece bem. Começa com aquele jornalista ou aquele dj que ouviu a banda em Londres, Nova Iorque ou em algum lugar obscuro e vem divulgar para os não-esclarecidos o que estamos perdendo. Aí o pessoal “moderninho”, que não pode ficar pra atrás, começa a correr atrás em lojas de discos importados, pede para aquele amigo descolado que mora no exterior gravar, enfim, fica por dentro da novidade.
De repente, quando menos se nota, está criada uma onda para eleger a “next big thing” da música no mundo, a coisa mais moderna, mais vanguarda, mais revolucionária surgida nos últimos tempos. E nessa brincadeira, dezenas de bandas despontam para o anonimato merecido.
O grande problema do hype não é que as bandas são ruins (bom, algumas são uma merda mesmo). Em alguns casos, as bandas são realmente muito boas (Strokes e Berimbrown, por exemplo, são duas das melhores que o colunista ouviu nessa nova leva, tem tudo para fazer sucesso) e podem inclusive construir uma carreira significativa. O problema é a grande expectativa criada – o Strokes chegou a ser anunciado como o novo Nirvana pela imprensa inglesa e americana, sempre em busca de um novo ícone pop – que acaba não sendo concretizada pelo simples fato de que seria impossível existir uma banda com tantos predicados. A imprensa cultural e os vanguardistas de plantão estão sempre de olho aberto e sedentos por serem os primeiros a “descobrir” o próximo grande grupo que vai marcar a música. Não apenas porque a corrida por “furos” dá prestígio mas também porque ninguém mais quer se arriscar a esperar 3 discos para descobrir um Radiohead, por exemplo.
Estar antenado com as novidades é bacana, mas só porque apenas você e mais meia dúzia conhecem a banda isso não a torna automaticamente boa. Também não é porque o jornalista tal ou aquela revista indie americana disseram que determinada banda é a melhor coisa do mundo que isso é verdade. A galera que tem a oportunidade de conhecer as novidades com antecedência – djs, jornalistas e pessoas em contato com o mundo exterior e com os locais onde se cria música – tem mesmo que divulgar o que ouviram. Mas daí a criar uma onda em cima disso, vai uma longa distância. E daí a você acreditar nessa onda, vai uma distância maior ainda. Resumindo: tenha opinião própria. Ouça tudo e goste apenas do que realmente lhe tocar.