A House Music, por DJ Mirr
Nesta edição de Hall Of Mirrors, o foco é a house music. Para falar sobre ela, conto com a ajuda do DJ Mirr, em uma entrevista que procura retratar um pouco da história e perspectivas do gênero, tanto lá fora como aqui.
DJ há 5 anos, Mirr começou discotecando em Campinas, onde foi residente de importantes projetos na cena underground da cidade, como o já extinto Play. Hoje é figura atuante em São Paulo, tocando no SmartBiz, Susi In Transe e na noite Colors – sem contar a Faces, em Taubaté. Idealizador, ao lado do DJ Lukas, do núcleo campineiro de produções e eventos Fuzu-e, obteve duas indicações ao prêmio Noite Ilustrada, promovido pela jornalista Erika Palomino: uma como DJ revelação e outra, através da Fuzu-e, como melhor iniciativa fora de São Paulo.
Hall Of Mirrors: O House é um gênero que está aí há cerca de vinte anos. Seria uma evolução da disco music, pra época?
DJ Mirr: Não diria uma evolução da disco, mas um filho direto. O mais direto de todos os filhos. A House, ou os primeiros sons que deram origem à House eram uma grande fusão da música negra: soul, funk, r&b e, claro, da disco. Foram nas discoteques de Nova York e Chicago onde a House encontrou um ambiente propício para o seu desenvolvimento.
Hall Of Mirrors: Ao longo da década de 80, Chicago e Nova York se mostraram como as grandes capitais do house. Como foram desenvolvidas as diferenças entre as produções destas duas cidades?
DJ Mirr: No começo, a musicalidade das duas cidades era bastante parecida, mesmo porque o Frankie Knuckles, residente da Warehouse de Chicago, era de NY e trouxe pra cidade toda a influência do som tocado pelos nova-iorquinos. A partir de 83, mais ou menos, com a abertura da Muzic Box de Chicago, os sons começam a se tornar mais distantes. O som de Chicago se torna mais rápido, mais tribal e menos soul. Claro que existe também espaço para o estilo de influências da música black ainda em Chicago, mas é quando começam a surgir as vertentes dentro do estilo.
Hall Of Mirrors: O Acid House surgiu como grande figurante no famoso Summer Of Love britânico de 1988. Como a Inglaterra (e posteriormente toda a Europa) contribuiu para a popularização do estilo?
DJ Mirr: Antes de chegar à Europa, a House tocada nos Estados Unidos se restringia apenas aos clubs undergrounds e às cidades de Chicago e Nova York. Quando a House chega a Londres, o estilo sai desse meio estritamente underground e se torna algo bastante popular. É difícil conseguir explicações precisas sobre o motivo dessa popularização, mas foi devido a ela que o mundo pôde conhecer o estilo que desencadeou todo o desenvolvimento da música eletrônica em geral.
Hall Of Mirrors: O House se inseriu tanto no mainstream musical que muitas vezes foi taxado simplesmente de Dance Music. Como a cena procurou diferenciar a variante comercial da esfera underground na qual o gênero teve início?
DJ Mirr: O grande responsável por fazer essa diferenciação, ou filtro, do que chega aos clubs e pistas de dança no Brasil é o DJ, e sua pesquisa dentro do estilo. Cabe a ele mostrar ao público o que é underground e o que é mainstream.
Hall Of Mirrors: Atualmente temos muitas vertentes do House (tech, deep, jazz, tribal etc.). Até que ponto elas são confiáveis e funcionais como demarcadores destes estilos?
DJ Mirr: Dificilmente uma música tem características de apenas uma vertente e o deep house feito hoje, por exemplo, é bem diferente daquele feito no começo da House. Acho que as vertentes são mais para fins “didáticos”. Dá pra falar em vertentes mais gerais, que abrangem uma gama maior de sons.
Hall Of Mirrors: Quais as perspectivas para o House diante de um cenário eletrônico tão multipolarizado e cada vez mais abrangente? Há o risco de estagnação ou mesmo, por outro lado, mudanças que venham a descaracterizá-lo?
DJ Mirr: Mudanças que venham a descaracterizá-lo já acontecem, desde a Acid House, onde a House começa a perder a sua alma. Graças a Deus, o estilo vem se reinventando desde sua criação e ainda hoje podemos encontrar bastante coisa criativa no meio de muita coisa ruim. Particularmente me atrai muito a House feita a partir de elementos acústicos, e por esse lado as possibilidades são infinitas.
Hall Of Mirrors: De onde está chegando o material mais original de House, atualmente? Existe uma perspectiva boa para produções brasileiras, como a aceitação que o Techno nacional, por exemplo, está começando a ter lá fora?
DJ Mirr: Hoje em dia existe House feita no mundo todo. Acredito que os grandes pólos atuais são San Francisco e Londres, mas nem por isso os mais criativos. É preciso pesquisar bastante para ter material exclusivo e não ficar na mesmice. Quanto ao Brasil, temos já algumas boas iniciativas de House e Tech House com distribuição internacional, como é o caso do remix feito pelo DJ e produtor Anderson Soares para a Patrícia Marx, que saiu pelo selo Nova Vida e que eu só encontrei pra vender em lojas virtuais de fora. O primeiro lançamento da Rebolado, do DJ Luis Pareto foi vendido também na Europa, assim como o primeiro Puzzle, do DJ Mimi. Recentemente, o DJ Renato Lopes lançou faixas pelo selo inglês Laus. Um disco que vale destaque também é a última parceria entre dois selos independentes, Substâncias e Puzzle, com faixas dos DJs Mr Gil e Mimi, de um lado, e Jac Junior e Dan Lambert, do outro.
Discografia Básica
Jesse Saunders & Vicent Lawrence – “On and On”
Marshall Jefferson – “Move Your Body”
Mr Finger – “Can You Feel It”
Jamie Principle – “Your Love”
Phuture – “Acid Trax”
Farley Jackmaster Funk – “Love Can Turn Around”
Lil Louis – “French Kiss”
Mais informações sobre o DJ Mirr podem ser encontradas em seu site, www.djmirr.net.
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Ouça a rádio Hall Of Mirrors: http://hallofmirrors.cjb.net/