Sucessos individuais
Sniff, sniff… parecia que tudo ia acabar. No final da década de 80 as coisas começaram a ficar difíceis para o rock tupiniquim. Com o fim do Plano Cruzado e do congelamento dos preços, as vendas de CDs caíram muito. E para piorar a situação, a chamada música brega começava a despontar para valer no mercado que iria dominar no início da década de 90. Diante deste quadro lamentável a alternativa foi apelar (!) para os artistas solos, como Marina, Ed Motta, Cazuza e Marisa Monte.
No fim dos ano 80 acontece o primeiro Hollywood Rock, que procurou reviver o sonho do primeiro Rock in Rio, e diga-se de passagem, o tratamento dispensando aos artistas brasileiros foi o mesmo dado aos gringos. O evento poderia se resumir numa frase de Herbert Vianna: “Foi muito melhor do que o Rock in Rio, a infra-estrutura e a organização foram excelentes.”. Para o Titãs, o Hollywood Rock foi a consagração. Já a cantora Marina fez o público delirar em sua apresentação, que alavancou o sucesso de músicas como “Fullgás”, “Uma Noite e Meia” e da balada “A Francesa”.
Com apenas 17 anos, Ed Motta já pôde sentir o gosto do sucesso. Estávamos em 1988 quando Ed estourou nas rádios com a dançante “Manoel”, deixando de ser visto apenas como “sobrinho de Tim Maia”. Em seu segundo álbum, “Um Contrato Com Deus”, Ed revela-se um grande multi-instrumentista, e por causa do sucesso que conseguiu alcançar foi convidado para se apresentar no Rock in Rio 2 em 91, apresentação essa que foi considerada pelo próprio artista como a melhor de sua carreira.
Mas o ano de 88 foi mesmo de Marisa Monte, que foi “descoberta” por Nelson Motta na Itália, onde ela fazia shows. No palco, Marisa era uma cantora muito eclética, misturando canções raras da MPB com sucessos atuais do rock, o que chegou a “emocionar” Caetano e Gal Costa. Em 89 sai o seu primeiro disco, um ao vivo (“Marisa Monte”) em que ela interpretava canções dos Mutantes, Tim Maia, Titãs e Luiz Melodia, dentre outros. O disco já foi consagrado antes mesmo de ser lançado, e o primeiro sucesso foi a amorosa “Bem Que Se Quis”. No seu segundo CD, “Mais”, as músicas “Ainda Lembro” e “Beija Eu” viram clássicos do pop nacional. No CD “Verde Anil Cor de Rosa e Carvão” os hits são “Na Estrada” e “Segue O Seco”. A cantora é consagrada com os álbuns “Barulhinho Bom” e “Memórias, Crônicas e Declarações de Amor”, lançado neste ano após um “recesso” de quatro anos.
Já para Cazuza, o que mais importava era misturar o blues e o rock com música lírica. Seu disco-solo “Exagerado” contava com a participação de Leoni, Kid Abelha e Lobão, e teve a canção “Só as Mães São Felizes” censurada pelo governo. Mas a aclamação por público e crítica vem prá valer em 1988, quando é lançado o álbum “Ideologia”. A faixa-título tornou-se um verdadeiro hino para os jovens brasileiros, e junto com “Brasil” é uma das músicas mais críticas e famosas de Cazuza. No dia 8 de julho de 89, após o lançamento do álbum duplo “Burguesia”, é anunciada a morte do poeta, mais uma vítima da AIDS.
Mesmo com as vendas em baixa, foi a vez de aparecer o rock do sul, com destaque para os Engenheiros do Hawaii. O primeiro disco da banda estoura com o hit “Toda forma de Poder”. Já no segundo disco, “A Revolta dos Dândis”, o hit é “Infinita Higway”. O sucesso veio para valer com a canção “Era um Garoto…”, do famoso álbum “O Papo é Pop”. Depois de participar do Rock in Rio 2, a banda comandada por Humberto Gessinger lança o álbum “Várias Variáveis”, taxado como o mais regional dos Engenheiros, motivo pelo qual cairam no esquecimento temporário do grande público.
“Sempre estar lá… não era mais o mesmo mas estava em seu lugar…”, dizia o refrão da música “O Astronauta de Mármore”, que consagrou o grupo Nenhum de Nós, liderado por Teddy Corrêa. O primeiro disco da banda vendeu 60 mil cópias graças à música “Camila, Camila”. Mas o mar não estava para peixe, e o grupo acabou sendo sacrificado pela gravadora. Era o fim da década de 80, a década do sonho e da realidade. O rock n roll rebelde daquela década ia sumindo da mídia à medida que os anos 90 avançavam. No início da nova década só nos restava ouvir música sertaneja ou resgatar aqueles empoeirados e arranhados disco de rock.
(Continua na próxima semana…)
:: Vitor Lopes, 16, que lamenta ter nascido só em 84 e sua mãe não o ter deixado ir ao primeiro Rock in Rio e nem nas noitadas do Morro da Urca.