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Salve, salve o Rock in Rio!

Euforia e loucura. Estas são as duas palavras que podem resumir o que se passou no rock brasileiro entre 1985 e 1987. Neste período tudo foi quebrado: guitarras, palcos, recordes de público e de venda. O que era impossível se tornou realidade: Rock in Rio. Muitos até hoje não acreditam que esse evento aconteceu, mas as pessoas (foram mais de 1 milhão!) que comparecem aos 10 dias de shows podem confirmar. E estava acontecendo uma revolução: o rock passou a fazer parte do dia-a-dia dos brasileiros. Depois da cena roqueira no Rio era a vez do rock paulista, brasiliense e nordestino mostrar a sua cara.


Inúmeras novas bandas surgiram por vários estados do Brasil. Três delas se destacaram e nos marcam até hoje. O RPM foi a mais bem sucedida comerciamente, conseguiu vender mais de 3 milhões de cópias de um único disco, feito ainda insuperado por outra banda de rock. O destaque de Brasília foi a Legião Urbana, que tinha as maravilhosas letras e o carisma de Renato Russo, e de São Paulo, os Titãs, que traziam o punk paulista na veia. 1985 foi mesmo o ano decisivo, onde percorremos todos os caminhos. O governo de Tranquedo Neves ajudou a economia do país, gerando consequências positivas para a música e para a realização do Rock in Rio.

O primeiro Rock in Rio aconteceu em janeiro de 85, com o empresário Medina trazendo 14 atrações internacionais de peso, em 10 dias de shows, e uma parafernália de 80 toneladas somente de equipamentos de som, o que lhe custou no total pouco mais de 11 milhões de dólares. A abertura foi no dia 11 de janeiro, com Ney Matogrosso cantando “América do Sul”. Três shows foram inesquecíveis. O de James Taylor, que emocionou o Rio com suas músicas românticas; o dos Paralamas, que mesmo com som ruim fez toda a Cidade do Rock pular; e o de uma alemã de cabelos vermelhos chamada Nina Nagen, que fazia um rock altamente agressivo. Vale citar também alguns outros nomes que participaram do evento: Queen, Ozzy Ousbourne, Yes, Go-Gos, Lulu Santos, Gil, Blitz e Iron Maiden, dentre vários outros. Poderia ter sido perfeito se não fossem a péssima qualidade dos equipamentos utilizados nos shows dos brasileiros e a chuva que caiu nos últimos cinco dias do evento.

É inegável que o Rock in Rio beneficiou – e muito – o nosso rock, que deixou de ser visto como “maldito” e despertou nas gravadoras um interesse ainda maior pelas bandas do gênero. E o primeiro sucesso dessa nova safra foi a música “Loiras Geladas”, do RPM. A banda atingiu rapidamente o sucesso e resolveu gravar o disco “Revoluções Por Minuto”, que trouxe hits como “Rádio Pirata”, “Olhar 43″ e “A Cruz e a Espada”. Em julho de 86 é gravado o disco “Rádio Pirata Ao Vivo”, contando com apenas 4 músicas inéditas. Mesmo assim o álbum foi lançado com uma tiragem inicial de 500 mil cópias já vendidas. Nas rádios só se tocava “London London”, e nas ruas só se via o rosto do vocalista Paulo Ricardo. Em 1988, o fim do sonho: o RPM se separa.

Como o RPM, o Ultraje a Rigor (liderado pelo vocalista Roger) também saiu no lucro após o Rock in Rio, lançando ainda em 1985 o álbum “Nós Vamos Invadir Sua Praia”, que chegou a rivalizar com o RPM. A banda ainda pôde contar com uma mãozinha dos Paralamas, que tocaram a música do Ultraje chamada “Inútil” em várias ocasiões.


Um outro destaque da época foi o IRA!. Fundada em 1981, a banda paulista tinha no vocal um garoto chamado Nasi, e se preocupava em fazer um rock “mais sério”, e por uma estratégia errada de marketing demoraram a estourar, o que aconteceu com o lançamento das músicas “Flores em Você”, “Pobre Paulista” e “Envelheço na Cidade”.


Banda de rock no nordeste? Havia sim! Chamava-se Camisa de Vênus e era liderada por Marcelo Nova. Estouraram com a música “Eu Não Matei Joana DArc”, chegando a contar com uma participação especial de Raul Seixas num de seus discos. E por falar em nordeste, outros grandes grupos de rock surgiram fora do eixo Rio-São Paulo. Essas maravilhas vêm do Planalto Central, da cidade de Brasília, a capital punk dos anos 80…


(Continua na próxima semana…)


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