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Nasce um bebê chamado “Pop-Rock”

Era inevitável constatar que, no início dos anos 80, o rock nacional iria explodir. Os elementos necessários já estavam acumulados, esperando o tiro inicial…


E tudo tinha começado em 1977, quando chegaram em São Paulo os primeiros vestígios do movimento punk inglês, com seu comportamento agressivo. O auge do movimento se deu com o lançamento do disco “Gritos Suburbanos”, dos Inocentes, Olho Seco e Cólera. Ao mesmo, no Rio de Janeiro, os músicos buscavam o rock mais livre e alegre, inspirado na onda new wave (podemos classificar esse estilo como sendo um punk mais melódico e harmonioso, tendo como maior exemplo o The Police). Em 1979, também no Rio, Rita Lee abre caminho pra o rock ao lançar a música “Lança Perfume”.

Início da década 80, o clima de ditadura ainda toma conta das ruas do país. Surgem então várias bandas underground, inspiradas nos punk do Sex Pistols e The Clash, tentando expôr sua revolta. Em São Paulo, um grupo de pessoas que gostam da MPB e aceitam os ideais punks criam a “Vanguarda Paulista”. Depois, em 1982, acontece o primeiro festival de música punk em terras brasileiras, chamado de “O Começo do Fim do Mundo”. O evento teve ampla cobertura da imprensa e registrou vários confrontos com a polícia. A idéia do mesmo era mudar a cara da música nacional, formada basicamente pela turma da MPB e Tropicália. O festival serve de inspiração para muitos jovens, pipocando então, principalmente por Brasília, várias bandas punks.

Pegando carona na onda new wave, surge a Gang 90 & Absurdetes, que em 83 lança seu primeiro álbum e comercializa um compacto com a música “Perdidos na Selva”. A banda acaba no ano seguinte, com a morte de seu líder e vocalista “Júlio Barroso”. Tinha os traços básicos da geração rock que estava para explodir no Rio: vocais femininos e um som bem alegre.

Lembra do necessário empurrãozinho inicial? Era setembro de 1982, e as rádios não paravam de tocar uma música que trazia os versos “Amor, pede uma porção de batata frita? Ok, você venceu, batata-frita!”. O refrão da música “Você Não Soube Me Amar” da Blitz ecoava pelos quatros cantos do país. Estava dando o tiro inicial para a explosão do rockBR. Liderada por Evandro Mesquita, a Blitz virou uma febre nacional…


Com o surgimento da Blitz, as gravadoras investem pesado no rock e começaram a correr atrás de bandas novas, que não eram dificeis de serem encontradas: quase todas, ou se reuniam no Circo Voador (local onde ocorriam os shows de rock) ou tinham suas fitas-demo tocadas na Rádio Fluminense.


O mercado fervia, e num dado momento aparece o casal Paula Toller e Leoni, à frente da banda Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens. Logo no primeiro disco, “Seu Espião”, a banda emplaca sete hits (“Como Eu Quero”, “Fixação”…) nas rádios, com músicas que relatavam o romantismo adolescente tachadas de rock comercial. Em 1986 Leoni sai da banda que diminui o número de aparições.


Com a caída de produção do Kid Abelha, surge uma banda mais preocupada em fazer um rock and roll sério. Tratava-se do Barão Vermelho, comandado por Cazuza. O primeiro disco da banda, “Barão Vermelho”, não vingou, mas rock dos anos 80 ganha o seu primeiro grande poeta, justamente ele, Cazuza. No segundo disco, “Barão Vermelho 2″, uma música, com a ajuda de Ney Matogrosso, toma conta das rádios. Era “Pro Dia Nascer Feliz”, que dá ao grupo o rótulo de “banda de rock não comercial”. Em 1985 Cazuza deixa o Barão e segue para sua brilhante carreira-solo.


No meio de tantas bandas, dois artistas-solo, que até já haviam tocado juntos, se destacam. O primeiro deles, Ritchie, se torna um estrondoso sucesso com o hit “Menina Veneno”, cujo compacto vendeu mais de 1 milhão de cópias. O cantor lançou outros discos, mas nunca conseguiu repetir o sucesso de “Menina Veneno” e foi cainda no esquecimento do público.


Já o outro, Lulu Santos, continua nas paradas até hoje. Seu maior sucesso naquela época foi “Como Uma Onda”. Lulu, que lotava os estádios e casas noturnas onde se apresentava, era considerado um dos maiores guitarristas daqueles tempos, tanto que em 1985 lançou o 4º álbum, “Normal”, com um som mais pesado e com menos baladas.


Como o mercado estava mesmo para o rock, Lulu resolveu ajudar os “Palaramas do Sucesso”, do amigo Herbert Vianna, a divulgarem suas músicas. O grupo, que tinha influência dos punks de Brasília, tentou fugir um pouco da onda new wave que comandava o rock, fazendo uma mistura de punk e reggae com ritmos africanos e SKA. Seu primeiro grande sucesso foi a divertida “Vital e Sua Moto”. Já o primeiro álbum, “Cinema Mudo”, foi um fracasso comercial e quase fez a banda desistir da carreira. Então, em 1994, os Paralamas lançam seu segundo álbum, “O Passo do Lui”, que estourou 8 hits, dentre eles “Meu Erro” e “Romance Ideal”, um feito inédito para a época. A consagração veio em 1985, com o Rock in Rio, onde 100 mil pessoas cantavam os refrões de “Óculos” e “Meu erro”.


E foi com o primeiro Rock in Rio que o Brasil entre em definitivo na escala dos grandes shows de rock internacional. Surgem para o Brasil, logo após mega-festival, bandas como Legião Urbana e RPM, trazendo um som irresistível.


(Continua na próxima semana…)


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