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Já é um bom começo

      Em 2000, a Abril Music começou o ano com 11% de participação no mercado. Nesta semana foi comunicada que a gravadora (empresa do Grupo Abril), conseguiu conquistar 25% do mercado nacional de CDs. Tudo isto em apenas 2 anos. Mágica? Nada, competência mesmo.

      O mercado brasileiro é um dos poucos (o outro que conheço é o Japão) onde a música nacional vende mais do que os sucessos internacionais. Aqui, nossa música representa mais de 75% das vendas de um mercado que faturou U$ 700 Milhões. O Brasil é o sétimo maior consumidor de CDs e sozinho representa 2,7% do mercado mundial, com mais de 100 milhões de unidades vendidas…


      Para uma gravadora brasileira, é melhor ter 01 (um) FalaMansa do que 10 (dez!) U2s e Mariah Careys JUNTOS, já que enquanto um artista nacional em evidência vende mais de 1 milhão de cópias, um internacional tem que lutar muito pra conseguir vender 150.000 cópias. E foi aí que a Abril focou seu trabalho, na música brasileira. Lançando artistas como o próprio FalaMansa, Maurício Manieri, Harmonia do Samba, entre outros, entrou facilmente num mercado que até então era dominado por gigantes Multi-Nacionais como Warner, Sony, Universal, EMI e BMG. A única brasileira com alguma expressão era a SomLivre, da Rede Globo; mas esta sempre preferiu fazer parcerias com as “Majors” do que concorrer diretamente com elas, como nas trilhas sonoras de novelas.


      Outro fator de grande importância deve ser colocado como razão de tamanho sucesso. Como é uma empresa 100% brasileira, a Abril Music não precisa pagar royalties para seus artistas em dólar e muito menos reportar lucros na moeda americana, como é o caso de suas maiores concorrentes. Por isso, a mesma não precisa basear seus preços no dólar e uma variação no câmbio em nada afeta sua política de preços. Ainda me lembro bem quando eu tinha uma lojinha de CDs e logo depois que o dólar passou de R$ 1,20 para R$ 2,00 as tabelas de todas as grandes gravadoras foram corrigidas em mais de 20% em um prazo de poucos meses.


      Agora a Abril vai mais além. Quer ser a primeira a implantar um “preço de capa”, uma política usada há anos pela indústria do livro, onde é fornecido um preço máximo de venda do produto. Este preço hoje é de R$ 19,90 (nada mal se formos comparar com alguns CDs à R$ 35,00 que encontramos em shoppings) e pretende assim aumentar ainda mais a participação no mercado e de certa maneira diminuir as vendas de CDs piratas, pelo menos de seus artistas. Para que os lojistas conseguissem vender seus CD por R$ 19,90 e ainda continuar com as margens antigas, a Abril Music abaixou ( ! ) seus preços, podendo ganhar assim no maior volume que espera alcançar.


      Mas não se anime tanto, pois infelizmente este movimento tende ser único no mercado. As “Majors” não conseguirão acompanhar esta redução de preços em seus catálogos. O que algumas já cogitaram, como a BMG, é uma precificação individual de seus produtos, onde certamente os CDs de artistas nacionais serão um pouco mais baratos que os CDs de seus companheiros gringos… Mas não esperem por muita coisa, já que o Brasil é um dos países onde os CDs custam mais barato em comparação à média mundial ( Alemanha U$ 12,00; EUA U$ 13,50; México U$ 9,40; Holanda U$ 15,00; Argentina U$ 14,00; Brasil U$ 9,00 ).


      Depois as gravadoras ficam procurando os motivos que levaram Napster, Kazaa e outros programas serem sucessos absolutos entre o público que consome música. E também ficam chorando as vendas perdidas com os CDs piratas. A Abril Music viu que choradeira não leva a lugar nenhum e resolveu agir. Mas será que uma andorinha só vai fazer verão?

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