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Cazuza X Renato Russo

      Quem foi melhor: Renato Russo ou Cazuza? Alguém tem a resposta na ponta da língua? Creio que não…


       Ambos cantavam e compunham com a alma, transformando dores e alegrias em geniais poesias. Carências a parte, um precisava brilhar sozinho, ser o centro das atenções. O outro sempre defendeu a idéia que “legal mesmo é ter uma banda”. Renato era mais discreto e introspectivo, e talvez por isso, muitas vezes soava melancólico. Já o Cazuza sempre se mostrou mais escrachado e pra cima, mesmo nos momentos mais difíceis de sua vida.

      Musicalmente, os dois tiveram influências parecidas, com intensidades variadas, já que culturalmente eles estavam em centros urbanos diferentes. Os dois quase sempre cantam na primeira pessoa, colocando sentimentos em cada palavra, formando assim os alicerces dos versos e estrofes, que tantas vezes nos servem de abrigo naqueles momentos em que não sabemos para onde ir.

      Cazuza sempre foi mais explícito em suas letras. Ele dava um testemunho incontestável de acontecimentos do dia a dia de uma vida virada, na maioria das vezes. Acredito que ele vivenciou cada letra que escreveu. Talvez nas festas pra galera no apê da Lagoa, talvez nos porres apaixonados nos Baixos da vida, ou talvez nas alucinações causadas pelas diversas “anestesias” usadas durante uma vida para encarar as dores do mundo em suas diferentes fases. Não importa, o certo é que ele canta o que queremos falar, gritar ou responder ao mundo(às vezes, desafiar o mundo), mesmo que seja com mentiras sinceras… É um lance mais cara a cara.

      Renato certa vez disse que nunca conseguiria colocar algo como “raspas e restos me interessam” em uma música sua. Para ele seria direto demais, agressivo até, e ele preferia expor suas experiências de outra forma, ou por outro ângulo. Até pelo fato de ser mais reservado, saía pouco, se isolava em casa e fazia sua bagunça por lá mesmo…

      Ele sempre buscou abordar questões mais complexas da nossa curta existência, ou seja, o amor e suas variáveis, a vida e suas dependências, e o fim de tudo que tem começo. Ou seja, Renato conseguia dessa forma, entrar no mundinho interior de cada mortal, e se tornou o que é, por dizer o que sentimos, transformando as mais profundas crises, dúvidas e dores em obra de arte.

      Portanto me parece óbvio que não há um melhor, eles inclusive se admiravam mutuamente. Tenho a sensação de que os dois se completam. Algo como o corpo e a alma, o pensamento e a prática propriamente dita. Renato simbolizaria o lado espiritual e Cazuza o carnal, na minha opinião. O fato é que os dois são exemplos indispensáveis como artistas e seres humanos e são imortais através de suas obras.


Oscar Vasconcelos, 23, futuro cientista da informação e fotógrafo nas horas vagas, acredita piamente que “não há colher” (Do you know MATRIX?) e é mais Stones do que Beatles.

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