Artigo: mudança requer ação. Você quer mudar?
Que o monopólio da mídia existe, isso todo mundo sabe. Seja ele através das rádios, dos jornais, da televisão, das gravadoras, etc. Todos estão insatisfeitos com a situação cultural do país, ninguém tem aprovado a qualidade de artistas que são despejados sobre nossas cabeças saídos sabe-se lá de onde. Mas essa história tem dois lados.
Às vezes parece que nada do que acontece hoje acontecia no passado. A manipulação das grandes gravadoras, por exemplo, sempre existiu. Artistas moldados para vender sonhos, para assumir a função de alter-egos, para representar nossos ideais, nossa essência. Claro, somos coniventes com a situação.
A última grande explosão do rock, que gerou um “movimento” musical, foi liderada por uma banda, claro que inspirada em ícones anteriores, mas na medida do possível autêntica, afinal, pelo menos não foi catapultada ao estrelato por alguma campanha publicitária. Estou falando do Nirvana e do grunge. Uma cena inteira foi descoberta para ganhar a admiração de jovens que vivem numa época descartável. A era da imagem, da propaganda e do marketing, dos valores distorcidos, do individualismo e por que não dizer, do comodismo.
Realmente o grunge revelou bandas acima da média dentre as quais as mais conhecidas foram Pearl Jam, Alice in Chains e Soundgarden, além do já citado Nirvana. Era a redescoberta do rock. As bandas começavam a deixar os estereótipos de lado, as maquiagens, as poses, a superprodução e apostavam na simplicidade e crueza de seu som e imagem para se aproximar de um público já saturado.
Mas ao contrário do que aconteceu em outros momentos importantes de mudanças na música (e na sociedade), como a Tropicália, o grunge muda uma realidade, mas superficialmente, já que as mudanças, basicamente, são a imagem e a postura. A preocupação é agora com os dilemas pessoais, as angústias, a depressão. O porta-voz da geração, Kurt Cobain, suicidou-se, sempre foi atormentado, ele simboliza e sintetiza as mudanças.
A estética agora, não é levada em conta. Quer dizer, é exatamente o contrário. As calças rasgadas, os cabelos sem corte, as roupas velhas e amarrotadas, a postura de “não estou nem ai”, se tornam a maior tendência da década de 90. Essa moda é refletida ainda hoje.
Não quero criticar, nem tirar os méritos do grunge, afinal, como arte, foi um momento indiscutivelmente inspirado da música contemporânea. Mas após o término de praticamente todos seus expoentes, o movimento acaba deixando uma herança. Tanto para críticos, quanto para gravadoras, artistas, e pessoas comuns, como eu e você.
Esperamos, hoje, alguma mudança. Esperamos, ainda hoje, o novo Nirvana. Procuramos por eles em toda parte. A cada nova banda, uma esperança de que o sonho reviva. Nos tornamos comodistas, passivos, sem reações. Sabemos reclamar de tudo o que não é nossa culpa (será?), mas não fazemos nada para o quadro mudar.
Agredimos ferrenhamente a mídia manipuladora dos dias atuais. Reclamamos da falta de variedade nas programações, dos jabás pagos, das bandas que se “vendem” para uma major poder viver da música. A mudança não é interessante para a os grandes, pois estamos sob controle. Continuamos digerindo as rádios, emissoras de televisão, jornais e revistas que criticamos. Continuamos comprando cds a preços exorbitantes, ou então incentivando a pirataria como se essa fosse uma atitude rebelde. Como se isso melhorasse a crise.
O que melhora, sim, é a abstinência. Não de informação, nem de música, nem de nada. Temos que nos abster de empresas e veículos que nos deixem sem opções. Que controlem nossas idéias, gostos e vidas. Afinal, eles dependem de nós, mais do que dependemos deles.
Não devemos esperar pelo surgimento do novo Nirvana, pois isso nunca vai acontecer. Arte é única. Boa ou ruim. É única. Mas somente quem apresentar qualidades irá entrar para a história. Não fique esperando que grandes gravadoras, ou rádios, ou TVs te entreguem a nova revolução. Eles querem clones. Algo que gere grana, que já foi feito, que é transformado em “original”.
Há uma nova cena de rock de garagem surgindo, os “principais” nomes vêm de Nova York. Existem muitas bandas boas? Existem. Mas também estão presentes os clones. Não é disso que precisamos.
A solução é que você, por seus meios, seja lá quais são eles, descubra o novo. Procure o novo. Ache aquilo que diz algo para você. Aquilo que é genial para você. Não acredite em armações, em produtos descartáveis. E lembrem-se, cada vez que os veículos manipuladores são acessados, acabamos consentindo para que continuemos sem opções. As descobertas estão logo a nossa frente. Só precisamos levantar e procurá-las, e não esperar que o façam por nós.