A vontade e a dificuldade de aparecer
Um jovem, 14 anos, começando a se interessar seriamente pela música, fica admirado com o estilo da sua banda preferida no palco, com o comportamento dos seus ídolos e logo pensa: “Eu quero ser assim”.
Essa é quase sempre uma cena inevitável nessa etapa da vida de uma pessoa. Uns logo se desinteressam, achando que não tem capacidade para compor e tocar, outros seguem caminhos diferentes aos da música e há os que levam o pensamento a sério, e resolvem a qualquer custo ter a sua própria banda, sonhando em revolucionar o mundo e alcançar a tão desejada fama.
No início, as bandas ensaiam covers, depois arriscam composições próprias, e então começam a se reunir em núcleos para organização de pequenos shows coletivos. Com o passar do tempo, apresentam-se em festas maiores, em bares badalados, divulgam seu trabalho no boca a boca e com muito esforço arrecadam dinheiro para a gravação da primeira fita-demo, com o objetivo de levar esta preciosidade às gravadoras, porta de entrada para o sucesso e para o reconhecimento de seu trabalho.
Até o fim da década de 90, conseguir uma gravadora que fizesse o lançamento de suas músicas era algo extremamente complicado e desanimador para um grupo iniciante, fazendo com que muitas bandas se resumissem a ensaiar por amor, tocar em festas e no máximo gravar uma fita-demo para tentar divulgar sua música ou para que os integrantes possam ao menos, no futuro, poder recordar os momentos que viveram como uma banda.
Com a popularização da Internet e o surgimento de novas tecnologias de compactação de áudio digital, os caminhos para os novatos terem seus trabalhos divulgados para grandes públicos se tornaram mais amplos e mais acessíveis. Com a música veiculada pela Internet qualquer internauta do mundo tem acesso rapidamente ao trabalho de um grupo, podendo assim adquirir as músicas na maioria das vezes gratuitamente. Isso possibilita também, tanto para as bandas iniciantes quanto para aquelas que já tem certo reconhecimento, a não obrigatoriedade de recorrer às gravadoras para terem suas músicas divulgadas. Já quanto a aceitação do público, geralmente é menor, ao menos no caso dos artistas desconhecidos. O que não faz com que deixe de ser relevante, pois são muitos os internautas amantes da música que se entusiasmam em só ouvir o que quer, fazer a sua programação, enfim, não precisar se deparar toda vez que ligar o rádio com músicas impostas por gravadoras.
E com estes novos caminhos abertos pela internet, o resultado não poderia ser outro: uma enxurrada de bandas novas vem se apresentando em “palcos virtuais”, tendo suas músicas expostas aos ouvintes de maneira avassaladora e sadia. Umas apenas pelo prazer de saber que seu trabalho está sendo conhecido por pessoas do mundo inteiro. Outras esperando que esta nova porta as ajude a despertar o interesse de pequenas, médias ou grandes gravadoras.
O caminho para o estrelato – em qualquer área – sempre foi assim: longo e muito difícil de se percorrer. Na música, esta dificuldade é acentuada pela enorme “concorrência”, pelas críticas implacáveis e principalmente pela falta de um “$uporte”. As grandes gravadoras se interessam principalmente nos sons mais comercias, onde letra e harmonia quase sempre podem ser desprezadas. Se sua música tiver o chamado “apelo comercial”, sua banda tem grandes chances de ser contratada e acabar por tomar conta das paradas de sucesso das rádios repentinamente. Mas cuidado: ao mesmo tempo em que alcança o sucesso, seu grupo pode acabar no anonimato, já que as gravadoras notoriamente não se interessam mais no longo sucesso de uma banda (a não ser que dê muito certo!) e sim, na vontade de mostrar para o público, novidades recicláveis e descartáveis. Alguém se lembra de “Claudinhos e Buchechas”, “Fincabautes”, “Latinos”, e outros artistas da vida que, como esses, já ocuparam o topo das paradas e hoje se encontram perdidos por aí, provavelmente fazendo shows em exposições agropecuárias no interior.
* Vítor Lopes, 17, curte Paralamas do Sucesso e desistiu de montar sua banda aos 14 anos.