A música que veio do planalto
Entre 1985 e 1987 Brasília seria um dos mais importantes pólos da produção roqueira no Brasil. De lá iria aparecer nesta época bandas como a Plebe Rude e o Capital Inicial, influenciados pelo punk do The Clash e The Cure. Mas a banda mais importante a surgir na capital nacional foi mesmo uma tal de Legião Urbana.
Legião Urbana: uma idolatria, uma religião que até hoje, mesmo com a morte de seu principal “Deus”, se mantém viva. Conheceu a fama com o disco “Dois” (oito músicas divulgadas na rádio), de 1986, segundo trabalho da banda que tinha sua raiz no movimento punk de Brasília. A pré-história da Legião Urbana começa em 78, quando Renato Russo formou o grupo Aborto Elétrico, que tinha ainda Fê Lemos e André Pretorius como integrantes. Renato já compunha músicas e letras, além de tocar baixo.
E foi justamente na época do Aborto Elétrico que Renato compôs “Geração Coca-Cola”, uma música que se tornaria um hino da juventude anos mais tarde, tocada pela pela Legião Urbana. O Aborto Elétrico acabou em 1982 por um motivo banal: Fê e André não gostaram da música “Química”, composta por Renato Russo e que mais tarde também seria sucesso ao som dos Paralamas e Legião.
Depois do término de sua primeira banda, Renato tenta iniciar carreira solo, mas logo encontra Marcelo Bonfá, e juntos decidem montar uma nova banda. Chamam o amigo e guitarrista underground Dado Villa Lobos, que tocava na banda Dado & O Reino Animal, para compôr a Legião Urbana. Com a banda formada, o trio decide então tentar a sorte no Rio. Foram parar na Rádio Fluminense com uma fita demo que tinha as músicas “Ainda É Cedo” e “Soldados”. Com a ajuda do amigo Herbert Vianna conseguem um contrato com a gravadora Odeon. O sucesso vêm de forma avassaladora em 1985, quando entra na banda o baixista Renato Rocha e emplacam o hit “Será”.
Com a música “Tempo Perdido” a Legião Urbana contagia as rádios de todo o Brasil e finalmente Renato Russo (que já foi comparado à Bob Dylan e Jim Morrison) e sua poesia é reconhecido pelo público. Em 87 é lançado o álbum crítico “Que País É Esse…”, em que emplacam a gigante “Faroeste Caboclo”, uma canção com quase 10 minutos de duração.
No ano de 1988 ocorre um trágico incidente, num show em Brasília. Um fã invadiu o palco durante a apresentação e agarrou Renato Russo, que se irritou e abandonou o palco prometendo nunca mais fazer shows em Brasília. O público fica revoltado e apedreja o palco e o ônibus da banda. O último sucesso da Legião Urbana na década de 80 seria a sofrida “Pais e Filhos”, do álbum “As Quatro Estações”, que foi lançado em 89 e não tinha a presença do baixista Renato Rocha, que pulou fora da banda. A banda ainda lançou discos (de menor sucesso) na década de 90, mas o sonho vai acabando aos poucos, com Renato Russo escrevendo canções cada vez mais melancólicas: Renato era aidético e acabou por falecer em 1996, deixando uma legião de fãs sentindo-se órfãos.
Em 97 saiu o disco póstumo “Uma outra estação”, com canções que haviam sido gravadas antes da morte de Renato Russo e em 99 a MTV lançou o “Acústico MTV Legião Urbana”, que havia sido gravado em 93. Ambos ultrapassaram a marca de 1 milhão de cópias vendidas, provando que a Legião Urbana permanece viva na memória dos fãs.
Assim como a Legião, o Capital Inicial surgiu com o fim do Aborto Elétrico (Fê Lemos é um de seus integrantes), e estourou em 86 com a canção “Música Urbana”. Eles aproveitaram tão bem as chances que chegaram a abrir shows para o Sting no Brasil. Já a Plebe Rude foi a banda surgida em Brasília que mais carregou no seu som as influências do punk inglês. Em 85 lançaram um mini LP dirigido por Herbert Vianna e alcançam o sucesso com a música “A Minha Renda”. As bases das letras eram críticas à sociedade e ao governo.
Lembram do cena roqueira em São Paulo? De lá vieram os Titãs, que já em 82 estouraram a canção “Sonífera Ilha”, mas que fizeram sucesso mesmo com o disco “Cabeça de Dinossauro”, de 86. As canções do disco atacavam diretamente a sociedade da época com o uma sonoridade pesada. O grupo, liderado por Arnaldo Antunes, tinha tantos componentes que mais parecia um time de futebol, mas a sorte é que todos gostavam das mesmas coisas e dos mesmos sons. Em 87 é lançado o aclamado “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas”, que chegou assuntando à todos por apresentar um som totalmente inovador.
Já para o polêmico cantor e compositor Lobão, o ano de 87 foi complicado. Ele foi condenado à 1 ano de cadeia por uso de tóxicos, tendo sido preso outras quatro vezes naquele mesmo ano. Ainda assim Lobão conseguiu lançar em 87 as canções “Vida, Louca Vida” e “Me Chama”, seus maiores sucessos de venda até hoje. Lobão foi a dica do que estava prestes a acontecer no fim da década de 80. Com poucas bandas novas aparecendo, a saída seria procurar cantores e cantoras solo.
(Continua na próxima semana…)
:: Vitor Lopes, 16, lamenta ter nascido somente em 1984