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Mark Zuckerberg e as chances do Facebook no Brasil

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Imagem via CrunchBase

Desde o início da semana passada, o espaço reservado a anúncios no NewsFeed da página inicial do Facebook começou a exibir uma propaganda sobre a vinda ao Brasil de Mark Zuckerberg, o fundador da rede social originada nos dormitórios da universidade de Harvard, EUA. Não sei se o mesmo foi exibido para todos os brasileiros que fazem parte do site ou se foi direcionado à parte dos usuários (e neste caso, eu acredito fazer parte do “target” por ter cadastro de desenvolvedor no FB), mas o fato é que a notícia se espalhou rapidamente e já está todo mundo sabendo que Mark vai dar uma palestra hoje as 11h na FGV, com transmissão ao vivo pela internet neste link.

E o que é que o mais jovem bilionário do mundo veio fazer aqui? Evangelizar! Mark chegou ao país no domingo a noite e ontem passou o dia cumprindo uma agenda de compromissos que incluiu entrevistas para veículos de imprensa e um bate-papo informal com blogueiros. A visita foi motivada pelo fato de o Facebook ter mais que dobrado de tamanho no país neste ano, atingindo 1.3 milhões de usuários em junho. Conforme Mark andou dizendo nas entrevistas de ontem, eles não fazem idéia do que está gerando esse crescimento, mas já que está acontecendo, resolveu vir conhecer o país e tentar jogar um pouco de álcool no fogo pra ver se a rede se alastra por aqui.

Mas quais são as chances do empreendimento do jovem CEO se criar aqui neste território complementamente dominado pelo Orkut desde 2004? Eu não arriscaria um número, mas acho que é uma possibilidade no mínimo não-desprezível, ao contrário do que parece acreditar o pessoal do Google Brasil, que já declarou ontem não estarem preocupados e que o market-share do Facebook por aqui é pequeno (e no momento, é mesmo).

Primeiramente, como diz um dos meus professores na UFES, vamos nos afastar das árvores e olhar a floresta. O Facebook, desde abril do ano passado, é a maior rede social do mundo. Oficialmente, são 250 milhões de usuários cadastrados e ativos. De acordo com o InsideFacebook, mais de 60% desses usuários estão fora da nação-berço do site, os EUA. Em muitos países, a rede social continua crescendo assustadoramente, e em outros já desbancou concorrentes locais previamente estabelecidos. Vamos visualizar quão significante é esse domínio?

Mapa das Redes Sociais no mundo

Mapa das Redes Sociais no mundo

O mapa-mundi acima, divulgado em junho, destaca as redes sociais que tem maior número de usuários em cada país. O Facebook é representando em verde e, como pode-se perceber, já conquistou praticamente toda a América, Europa, África e Oceania. Fora do mercado asiático, que pelas diferenças culturais em relação ao Ocidente é dominado por redes locais das quais você provavelmente nunca ouviu falar, as únicas grandes ilhas de “resistência” ao Facebook são México e Brasil.

Especificamente aqui em nosso país, esta é uma resistência e tanto, e atende pelo nome de Orkut. A rede social do Google, embora irrelevante em qualquer outro lugar que não sejam as terras do carnaval e de Bollywood, tem no Brasil a maior penetração de mercado que qualquer outra rede social em qualquer outro lugar do mundo. Como todos nós sabemos, aqui todo mundo conhece o Orkut, e o número de usuários do site representa cerca de 70% do número pessoas com acesso à web.

Que o Facebook é uma plataforma inegavelmente (muito) melhor que o Orkut, ninguém (em sã-consciência) parece discordar. Mas no mundo das redes sociais, o que realmente conta são seus amigos, e quando um brasileiro que se cadastra na nova rede percebe que só uma pequena parte dos seus contatos estão lá, restam poucos motivos para ele usar ativamente o serviço mesmo que em paralelo ao Orkut, que acaba tendo no “network effect” uma verdade muralha contra a migração para outras redes.

Essa muralha, porém, tem algumas vulnerabilidades que podem ser exploradas, e a maior delas são os usuários insatisfeitos. Tem muita gente que usa o Orkut mas não gosta. Tem muita gente que saiu do Orkut. Tem muita gente que nem está lá porque acha que é queimação de filme. E definitivamente, tem muita gente que, mesmo gostando do site, se irrita com o mar de spam no qual ele se transformou. O Facebook tem a plataforma perfeita para conquistar o segundo e o terceiro grupo mencionados. Analisando pelo meu círculo de amigos no FB, eu diria que é bem provável que a maior parte desses 1.3M de brazucas que já estão por lá se encaixam nestes.

Mas pra se tornar realmente relevante por aqui, é preciso conquistar os usuários do primeiro e quarto grupos. Aí a coisa é mais embaixo. Estamos falando do povão, das infames massas de usuários que lotam lan-houses em todos os cantos desse país só pra entrar no Orkut, e em muitos casos a internet se resume a este site para eles. Eu não consigo imaginar o que poderia fazer essa turma começar a pelo menos experimentar o Facebook (e se soubesse, corria lá no Mark pra oferecer consultoria haha), mas analisando estritamente pelo lado lógico, não vejo grandes barreiras a isso além do já mencionado fato de todos os amigos estarem no Orkut.

Muita gente boa diz que o Facebook nunca vai se criar por aqui porque o Orkut é mais fáci de usar e mais atrativo pros usuários brasileiros. Eu discordo. De fato são duas redes com experiência de uso bem diferentes, e o fato de o Facebook não exibir na página inicial uma lista com seus amigos e suas comunidades certamente é mais uma barreira, mas acho que para por aí. Além de já ter versão em Português, o FB torna a interação (ou o “fuxico”) com os amigos muito mais fácil através do newsfeed logo na página inicial.

Um outro ponto a favor do Facebook são os melhores controles de privacidade, já forçados por padrão. A inexistência destes controles foi talvez um dos grandes motivos do crescimento do Orkut no início, já que muita gente entrava (e ainda entra) lá pra vigiar a vida alheia. Só que as pessoas foram se queixando disso, o site implementou as tais opções de privacidade e hoje é raro encontrar um álbum de fotos ou scrapbook escancarado para todos verem. E por fim, certamente dá pra dizer que as diferenças culturais (ou até mesmo a “falta” de cultura) do nosso povo não são um impedimento. Como o mapa mostra, praticamente toda a América Latina usa o Facebook, e como nosso comportamento online não é tão diferente do dos nossos hermanos, este não é um motivo para não usar site.

Cultura, usabilidade e experiência de navegação não sendo barreiras, “só” resta mesmo ao Facebook começar a conquistar nossos amigos. Talvez o passo mais difícil, conquistar os primeiros usuários, já tenha sido dado. A rede social de Mark Zuckerberg tem características muito mais virais do que qualquer outra, e como já aconteceu em todo o mundo, é bem possível que esse número  de 1.3M comece a se multiplicar nos próximos meses. Não dá pra dizer se, com isso, em algum momento vai ultrapassar o Orkut. Apesar de não desprezar a possibilidade e de todos os argumentos que fiz, ainda assim não acho que o povão vá migrar tão facilmente pelo menos não nos próximos anos.

Mas se tivesse que fazer uma aposta, apostaria que vai acontecer uma espécie de “Apartheid Digital” nas redes sociais brasileiras, com as classes D, E e parte da C permanecendo no Orkut, e os demais migrando pro Facebook. É clara a maior insatisfação e até mesmo uma certa “discriminação” das pessoas com maior nível de instrução (e renda, por consequência) em relação ao Orkut. Agora que a base de usuários do Facebook aqui deixou de ser desprezível, vejo mais e mais dessas pessoas começando a usar o site americano assim que começarem a receber convites insistentes de amigos por email.

Se a expansão do Facebook no exterior pode ser usada como exemplo, um grande case a ser tomado como parâmetro do potencial conquistador da rede social vem exatamente do mercado americano. Lá o MySpace dominava complementamente no início de 2007 (quando o Facebook começou a se expandir), atingia todo tipo de usuário e era onipresente na mídia. Até em filmes de Hollywood havia menções ao site (assistiu Homem de Ferro?), mostrando que ele já fazia parte da vida das pessoas. Em menos de dois anos, o Facebook dizimou a liderança do MySpace, que foi ultrapassado no primeiro semestre desse ano e, apesar de ainda ter muitos usuários, perde cada vez mais market-share, o que forçou o novo CEO da empresa a demitir centenas de empregados e a buscar um reposicionamento (que já começou) mais como hub de conteúdo multimídia do que como rede social.

Por esse e por vários outros exemplos, acho que nos próximos dois anos o Facebook vai crescer muito no Brasil e, mesmo que não domine o mercado, vai ter um market-share interessante que não poderá ser ignorado. E você, o que acha?

Ps.: Também decorrência da visita de Zuckerberg ao Brasil, ainda hoje vai acontecer em São Paulo o primeiro “Developer Garage” no Brasil. Este é um evento que o Facebook realiza em vários lugares do mundo e é direcionado para desenvolvedores interessados em conhecer e integrar seus aplicativos com a plataforma Facebook. Começa as 17h e será transmitido ao vivo no Ustream.

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  • samvignoli

    Facebook dobrou de tamanho no Brasil pelo simples fato de passar a convidar os amigos do orkut (spam!).
    E o Cifra Club+Letras tem 2.1 milhões de users. Ganhei. =D

  • http://www.pauloacosta.com/ Paulo

    O cara vem ao Brasil fazer uma palestra, e nem ele mesmo sabe a razão da explosão do trafego aqui…

    Quem tem perfil no Facebook e algum dia convidou sua lista de amigos do Hotmail sabe a razão desse aumento: o Facebook insiste enviando os emails de convites inúmeras vezes, não só naquela vez requisitada. Isso me criou até problema, pois alguns amigos se sentiram incomodados com a minha insistência no envio de inúmeros convites, que até hoje recebem.

    O mesmo acontece com o “sucesso” do Sonico, que uma tal de senhora Herbário Motta convidava todas as pessoas da internet para serem seus amigos. E depois dão entrevista falando do seu sucesso. Até parece que alguém utiliza este site. Muitos terminam permanecendo somente por não saber como deletar a conta. O Sonico hoje deve ser a maior rede social fantasma da internet, só irá ter concorrente daqui a 1 ano quando o Twitter cair em desuso.

    O pior é que depois ainda somos obrigados a aguentar estes mesmos indivíduos fazendo publicidade contra Spam.

    Voltando ao assunto do Facebook; é muito dificil prever o que vai acontecer daqui pela frente, cada um dos concorrentes tem o seus prós e contras:

    - Facebook deve se tornar uma rede para classes mais alta para que estes possam manter contato com seus amigos que moram no exterior. Sabemos que é utilizado por classes mais altas, e que isto é um facilitador para virar moda. Porém, este permite o bloqueio de todo o perfil e nós sabemos que o que atrai no orkut é a vida alheia. Afinal, o orkut é um site de namoro e fofoca disfarçado… a pessoa está namorando e bloqueia tudo que pode, basta terminar o namoro e você vê o status como solteiro e tudo desbloqueado… :)

    Já o Orkut tem o Google por trás. Se por um lado eles copiaram todos os recursos do Facebook, por outro eles tem tecnologia que dificilmente o Facebook terá … como detecção de faces, Maps e outras tecnologias proprietárias.

    Acho que essa disputa será decida fora do pais, se pessoas de fora passarem a utilizar mais o orkut, acabará o mais forte argumento do Facebook. Muito embora o orkut seja um pouco rejeitado pelo Google. Apesar de vermos algumas integrações, o Google cria novas ferramentas de perfil ao invés de associar ao orkut….

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