“Conteúdos para celular”: O scam legalizado mais lucrativo da internet
Neste final de semana eu estava baixando alguns capítulos de seriados quando um dos sites que eu sempre uso para encontrar links para os arquivos exibia um anúncio convidativo na página de redirecionamento de downloads. Você já deve ter visto um desses, em páginas como a mencionada, ou em popups: uma imagem de celular, com campos para inserir seu DDD + número + operadora e “receber gratuitamente” uma semana de jogos, músicas, ringtones, wallpapers e outros “conteúdos para celular”.
Este anúncio com o qual me deparei sequer continha as letrinhas miúdas que geralmente são exibidas em anúncios semelhantes, informando no rodapé da página que ao colocar o seu número você passará a pagar cerca de R$ 5,00 por semana (em troca de créditos para baixar os tais conteúdos), e que a segunda semana de assinatura é grátis. Imediatamente me veio à lembrança um comentário que li em algum blog acusando os sites que oferecem esses serviços de se valerem de táticas de scam. Pode parecer um pouco radical, mas acho que essa é realmente a melhor definição para as assinaturas oferecidas em sites como o dada.net, flycell.com.br e tj.net.
Eu obviamente não testei para saber como funciona, mas parece que para confirmar é preciso informar uma senha que é recebida por sms depois de preencher o formulário. Ainda assim, as táticas de captação de assinantes nesses anúncios são no mínimo desonestas ao frisarem o termo “grátis”. Lembro que esses serviços começaram a surgir no Brasil em 2006 e que suas propagandas estavam em tudo quanto é site. Não é difícil imaginar que muito internauta desavisado, vendo a publicidade em algum site confiável, colocou inocentemente seu número de celular e passou algumas semanas vendo seus créditos pré-pagos desaparecerem, ou pior, só descobrindo o custo da brincandeira no final do mês quando a conta do pós-pago chegava.
E o mais impressionante nessa história é que tudo isso acontece com a permissão das operadoras de celular, que firmam parcerias com essas empresas e facilitam ao máximo a adesão e cobrança de seus clientes. As mesmas operadoras, que apesar de serem alvo de inúmeras reclamações dos próprios clientes, chegam a levar mais de um ano para aprovar parcerias com serviços movéis legítimos sob o argumento de que precisam proteger o mesmos.
Só que, ao contrário de um simples serviço web de envio de sms prestado por alguma pequena empresa (como a do João), essas assinaturas de conteúdo multímidia para celular movimentam muito dinheiro. Seria simples intuir isso só de imaginar as enormes somas que essas empresas gastam em publicidade. Além de anúncios onipresentes na web, eu já ouvi inserções nas maiores rádios e em programas como o Pânico na TV, Malhação ou nos comerciais da MTV – todos voltados para o público jovem.
Mas eu não conto só com a minha intuição para afirmar isso. No final de 2007 participei de uma reunião com um executivo italiano de uma dessas empresas, e ele contava que o primeiro ano deles no Brasil foi melhor que imaginavam, e que iam fechar com faturamento de R$ 33 milhões em assinaturas. Fiquei boquiaberto. Dificilmente existe mais de uma centena de empresas na internet brasileira faturando isso. É muita grana entrando, e por consequência muita gente sendo lesada. Tudo legalmente.
Não dá nem pra dizer que isso só acontece no Brasil, pois todas essas empresas são de origem estrangeira e adotam as mesmas práticas em outros países. Mas definitivamente dá pra dizer que os consumidores que cairam no golpe definitivamente não aprovam essas práticas, vide o número de reclamações e indices de aprovação de duas delas no ReclameAqui. E enquanto ninguém faz nada, esse vai continuar sendo o scam mais lucrativo da internet.
Tags: celular, conteúdo multimidia, jogos, ringtones, wallpapers-
samvignoli
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