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O pesadelo das gravadoras: 500 milhões de músicas para ouvir de graça

mp3_free_musicDesde o surgimento do Napster abalando as estruturas do mercado fonográfico em 1999, as gravadoras vêm travando incontáveis batalhas contra provedores de serviços p2p, websites e até mesmo usuários, vivendo um grande pesadelo no qual suas receitas diminuem ano após ano. Recentemente, os mais notáveis rounds dessa guerra quase perdida tem se dado contra as redes sociais e os serviços de streaming de música que permitem aos zilhões de usuários dessas redes inserirem música em seus perfis.

Alguns desses serviços já nasceram legalizados, como o 8tracks, e outros como o Pandora e o Last.fm capitularam ao longo do tempo e aceitaram pagar as (caras) taxas de direitos autorais para streaming de música na web. Outros, como o Project Playlist, está sendo processado por algumas gravadoras e nas últimas semanas foi removido – mediante solicitação das majors – de milhões de perfis de usuários do Myspace e Facebook.

E hoje o TechCrunch traz uma notícia sobre um novo serviço semelhante e bem interessante, o jogli.com, de uma empresa israelense.

Diferente dos outros sites citados, o jogli.com não armazena as músicas que disponibiliza para audição. Todas as canções estão em vídeos, em sua maioria postados no Youtube, e o que o site faz é organizar uma imensa base de dados de músicas disponíveis para streaming na web, agregando-as por artista e por albums. O blog do site diz que através de seu sistema de busca um usuário poderá encontrar mais de 500 milhões de canções e 12 milhões de álbums completos. Todos esses álbums podem ser inseridos em qualquer rede social, blog, fotolog ou site pessoal do planeta através de um widget personalizável que pode ser facilmente obtido no site. Como esse abaixo, de um dos meus álbuns favoritos :)

Embora o acervo que o site conseguiu indexar e organizar seja de proporção inédita (pelo menos pra mim), a idéia de usar as músicas disponíveis em outros serviços não é exatamente nova. No orkut  por exemplo, existe uma app para opensocial, feita pela brasileira studiosol, que também utiliza o youtube para obter músicas, além de exibir letra (traduzida, se for em inglês) e cifra da canção que estiver tocando.

Mas o jogli.com está um passo a frente. Além de funcionar independente de redes sociais, o site tem uma interface bem simples e eficiente, e permite buscar e ouvir as músicas e albums sem que o usuário precise se cadastrar. Mais do que isso, faz uso inteligente de ajax para permitir que, se você estiver ouvindo um álbum e resolver fazer uma nova busca, os resultados sejam apresentados sem interromper a experiência de audição. E também é possível adicionar as novas músicas encontradas ao final da playlist que estiver sendo executada. Existe por fim a opção de salvar a playlist, mas para isso é preciso se cadastrar.

Funcionar independente de plataformas de terceiros e aparecer na página principal do TechCrunch certamente vai fazer o serviço, que existe desde junho/2008, chamar a atenção e entrar no radar das gravadoras. O Youtube tem acordos com boa parte das gravadoras e artistas (embora uma das grandes, a Warner, não queira saber de conversa com o serviço do Google). Dá a elas a opção de solicitar a remoção da canção que infringir copyright (e vem criando algoritmos para previnir a inclusão destas), ou de compartilhar a receita gerada com anúncios nas páginas em que o vídeo com a música for exibido.

Assim, mesmo se defendendo com o argumento de que as músicas não estão armazenadas em seus servidores – e mais do que isso, usando as músicas de um site que não está em rota de colisão com as gravadoras – acho que serviços como o jogli.com infelizmente não podem se considerar a prova de problemas com os ensandecidos advogados da indústria musical.

Primeiramente por que o fato de as músicas estarem em servidores de terceiros há muito tempo não é aceito como “desculpa” pelas gravadoras: em 2002, eu mantinha um serviço de busca de links  para arquivos mp3 , e mesmo assim recebi uma intimidante cartinha da APDIF solicitando que fosse tirado do ar. Mesmo discordando até a morte da interpretação e da postura deles, eu não tinha como di$cutir e fiz o que foi pedido.

Um segundo motivo para se preocupar seria as gravadoras resolverem argumentar que, mesmo que elas tenham um acordo para exibição de publicidade no Youtube, serviços que agregam funcionalidades e valor aos vídeos do youtube mas os exibem em seus próprios sites, com as suas marcas, deverão ser tratados de forma diferente, até porque os vídeos que esses serviços indexam através da API do Youtube não são monetizados pelo mesmo, e portanto não geram nenhum retorno para as gravadoras também. Sem fazer qualquer juízo de valor, acho bem possível que isso possa acontecer em algum momento futuro, a menos que o Youtube resolva pagar a taxa de streaming para cada canção, que nos EUA é de 1/70 de centavo de dolar (parece pouco, mas multiplique isso por bilhões de visualizações e  se chegará a um valor inviável).

Não arrisco dizer o que vai acontecer, e nem como ou quando essa guerra vai acabar.   Mas enquanto o tempo passa os usuários, que não tem nada a ver com isso, continuam usando agradecidos bons serviços como o jogli, que estufam o peito diante dos canhões da indústria musical para que todos nós fãs de música possamos ouvir o que, como, quando e onde quisermos as canções de nossa preferência.

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